Panorâmica 1Panorâmica 2Panorâmica 3Panorâmica 4Panorâmica 5Panorâmica 6Panorâmica 7Panorâmica 8Panorâmica 9Panorâmica 10Panorâmica 11Panorâmica 12Panorâmica 13Panorâmica 14Panorâmica 15

Foto: Cauê Moreno

Celebração da diversidade da arte contemporânea produzida no Planalto Central

A heterogeneidade da arte contemporânea brasileira, que por si só, desfaz a ideia de um plano cartográfico hegemônico, redefine a relação entre o regional e nacional, o local e global, a periferia e o centro, nos oferecendo um mapa amplo sobre a rica e complexa diversidade da produção atual. A exposição apresenta um coletivo de artistas que, apesar de residir e trabalhar nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e Goiás, em uma espécie de estratégia e movimento de resistência, não se deixou afetar pelas delimitações política, econômica e geográfica da região. Conseguiram, a despeitodas distâncias, estabelecer diálogos de suas narrativas poéticas com a das grandes metrópoles, e projetaram suas carreiras em âmbito nacional e internacional.

O recorte apresentado propõe instigar olhares para um território que, apesar de geograficamente ser o centro do país, vive às margens de políticas expressivas para a arte contemporânea. Dessa forma, quando relativizado, especificamente, com a cidade de São Paulo, se torna uma espécie de limbo periférico. Compreender a arte contemporânea produzida na Região Centro-Oeste como um dos eixos ou circuitos que compõem a produção brasileira perpassa pela percepção de que transformações sociais, políticas e econômicas culminaram na superação do paradigma que estigmatizava a periferia em situação de inferioridade em relação ao centro.

Esse deslocamento de significados deixou ultrapassados conceitos que colocavam em oposição a produção dos hipercentros metropolitanos da Região Sudeste e o das bordas geográficas e sociais do restante do país, e deu lugar ao nascimento de polos de convergência.

O imaginário do exótico e da potência da arte realizada fora da Megalópole Rio-São Paulo tem, recentemente, chamado a atenção para a arte contemporânea do Planalto Central, instigando novas investigações sobre uma produção expressiva em volume e qualidade que, até então, por muitas vezes, foi excluída de importantes mostras do cenário nacional. Na perspectiva de sedimentar-se como registro e parte da história atual das artes visuais, o conjunto de obras aqui apresentadas, visa - apesar das peculiaridades da produção da região – a contribuir para a construção de uma História da Arte horizontal, em que periferias e centros estejam registrados em um mesmo mapa.

A mostra tem a intenção de celebrar a diversidade da arte contemporânea produzida no Planalto Central edar visibilidade, assim como, colocar em circulação obras do Museu de Artes Plásticas de Anápolis (Mapa) que estabelecem diálogos com trabalhos de artistas que ainda não estão representados no acervo do aparelho cultural. Um dos princípios que norteia sua concepção curatorial é a relação estabelecida entre expressivos artistas que tiveram suas trajetórias desenvolvidas no Planalto Central e que, durante décadas, contribuíram para a construção da História da Arte e o aprimoramento da produção contemporânea dessa região. Considera-se, ainda, o fortalecimento das divisas culturais geradas a partir da interação com as outras regiões do Brasil e jovens artistas que, recentemente, ingressaram no circuito institucional e comercial, mas conseguiram incorporar suas produções em importantes coleções públicas e privadas.

A exposição não tem sua concepção curatorial estruturada a partir de uma temática narrativa, mas, sim, na diversidade das poéticas desenvolvidas. Tem em seu escopo a preocupação de propor reflexões acerca da permanência, do deslocamento dos artistas e da relevância do valor histórico de uma produção que, por vezes, foi registrada ao longo do tempo à margem da História da Arte nacional.Com a maior parte de artistas naturais do Centro-Oeste, a exposição conta ainda com nomes de outros estados que escolheram a região para residir e construir suas trajetórias. Muitos deles, em especial nos últimos anos, com a oferta de residências artísticas no Brasil e em outros países, tiveram a oportunidade de viver por períodos, ora curtos, ora mais longos, em importantes centros de formação e consumo de arte contemporânea, resultando em trocas e contaminações importantes para a continuidade do desenvolvimento de suas pesquisas poéticas,após retornarem às suas casas e ateliês, em terras do Planalto Central.

Ao aproximar os trabalhos que integram a exposição, é possível notar convergências casuais de suas pesquisas e narrativas poéticas, o que é algo natural por se tratar de artistas que lidam com manobras intelectuais e códigos inerentes à sociedade contemporânea, além de questões singulares da região, que ecoam em várias obras apresentadas. Apesar de ter um forte viés histórico, a expografia da mostra e a edição do catálogo não foram pensadas em sentido cronológico ou em que as obras fossem agrupadas por mídias. Por não ter uma temática definida, muito pelo contrário, devido à variedade de manobras e narrativas poéticas apresentadas pelos artistas, os trabalhos foram montados de forma que o fruidor consiga perceber pontos de contato entre eles.

Embora seja uma celebração da diversidade, é notório a reduzida presença feminina na mostra. O que, de certa forma, são reflexos de um contexto histórico a ser superado não somente na Região Centro-Oeste, mas no Brasil. Apesar da crescente participação das mulheres na cena da arte contemporânea e de movimentos surgidos, principalmente nas duas últimas décadas, buscando realizar correções históricas e mostrar que não existe diferença entre o teor das narrativas poéticas dos trabalhos produzidos por homens ou mulheres, ainda é tímida a inserção de obras produzidas por mulheres no mercado de arte e em coleções institucionais. Vale ressaltar que a mostra não tem a pretensão de abarcar a produção de arte contemporânea do Planalto Central em sua totalidade.

Trata-se de um recorte temporal que busca, por meio de obras do acervo do Mapa e de artistas convidados, criar uma espécie de Raio X da produção regional. Com certeza, vários outros artistas, em especial mulheres, poderiam estar presentes, porém em razão do limite do espaço expositivo, foi adotado como critério para a escolha, independe de gênero ou orientação sexual e da heterogeneidade de suas pesquisas, artistas cujos trabalhos oferecessem entre sipossibilidades de leituras e conversas possíveis.

Anápolis, abril de 2020

Paulo Henrique Silva

Curador da Mostra